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Correto Entendimento
O Primeiro passo no Caminho Óctuplo Por que é tão necessário que tenhamos paciência e humildade em nossos julgamentos? Por que estamos todos tão preocupados com a compreensão do Dharma: direitos, deveres, a verdade, a maneira correta de proceder, os privilégios e obrigações de posições, enquanto ao mesmo tempo ignoramos o Karma que é a rede de causas e efeitos que nos coloca na posição atual em que nos encontramos? O segredo do Zen reside na compreensão do porquê que fazemos as coisas que fazemos e porquê somos da maneira como somos. Começamos fazendo uma pequena faxina mental. 1. Julgar bem e mal, e outras noções tolas. O Zen nos obriga a nos livrar da confortável mas errônea idéia de que quando agimos de maneiras consideradas boas, é o nosso ego que tem atuado tão meritoriamente, que ganhou, através da exibição de determinadas virtudes, toda a honra, e quando agimos de maneiras que são considerados más, é outra pessoa quem é a culpada. Tal atitude, como sabemos, é infantil. Mas em que ponto deixamos de ser crianças? Onde, precisamente, é desenhada a linha da maturidade na areia do tempo? De alguma forma, a idade da razão vem sobre nós, de forma "súbita e terrível", como se diz em lápides medievais, sem que pareçamos preparados para isso. Um dia somos jovens inexperientes, capazes de rescindir um contrato que assinamos para comprar um carro porque nós somos jovens demais para ser forçados a honrar nossos acordos, apesar de estarmos velhos o suficiente para operar o veículo em circulação, e no dia seguinte, somos adultos totalmente responsáveis, sujeito à pena capital ou fatos até mesmo um processojudicial se essa fosse a punição prescrita por um delito. Nós atingimos a maturidade e, portanto, atingimos a idade da razão. Muitas vezes nos esquecemos da lição básica do karma: a de que até que o Arquétipo de Transformação nos comande ou nos permita mudar, o que fazemos no décimo segundo capítulo da nossa vida é determinado em grande parte pelos onze anteriores. Só um tolo, cantando com orgulho, anunciaria que o sol agora se levanta sobre alguém que é o mestre de seu destino. Para ver como podemos ficar completamente confusos com essas expectativas de responsabilidade, vamos imaginar que certa vez dois irmãos gêmeos idênticos foram colocados para adoção logo após o nascimento. O bebê A foi dado a um casal que era como a nós somos (exceto pelo destino cruel que não mrecemos e alguns parentes que nem preferimos mencionar): gentis, prósperos, educados e responsáveis. Cientes das muitas exigências das crianças, os novos pais do bebê A estavam amorosamente dispostos a oferecer a melhor comida, suplementos nutricionais, cuidados médicos, agasalhos, o ambiente para sono tranquilo e assim por diante o quanto pudessem. Ensinaram-lhe boas maneiras e quando ele foi para a escola ajudaram-no a memorizar listas, datas e fórmulas. Eles sempre revisaram sua lição de casa e eram alvo fácil para os vendedores de enciclopédia de porta-em-porta. Ao bebê A nunca faltou suprimentos e equipamentos para auxiliá-lo em seus estudos. Quando ele ia muito bem em um teste era recompensado com deleites especiais. Ele se tornou um frequentador dos zoológicos, planetários e museus de história natural. Aos domingos ia à igreja com a mãe e o pai e, enquanto caminhavam juntos de volta para casa, ocupava-os com elucidações espirituais dos pecados referidos na homilia. Ele tinha um cachorro, um gato, uma tropa de escoteiros, um violão, uma bicicleta e ensinamentos que conspiravam para ensinar-lhe responsabilidade pessoal, social e financeira. O bebê A, a mamãe e o papai estavam, em todos os sentidos, em uma unidade familiar formidável. O bebê B não teve tanta sorte. Um ano depois dele ser adotado, seu pai morreu em um acidente de trânsito. Sua mãe, vencida pela dor e tristeza, primeiro desperdiçou o dinheiro do seguro em drogas que aliviaram sua dor e, em seguida, na cura das drogas que aliviaram seu pesar. Sua mãe se casou novamente. O padrasto pelo menos era classificável como um primata. Ele era bípede, peludo, de forma inequívoca de sangue quente e tinha polegares opositores. Mas além de certos modos de mamíferos, não deu muitos motivos para ser incluído entre os homo sapiens, porque sábio ele não era. Ele ficava bêbado a maior parte do tempo e com freqüência batia na mãe do Bebê B e no bebê. A mãe bebia também. Enfim, haviam brigas e bebedeiras terríveis. O bebê B não só não tinha suplementos de vitamina suficiente, ele não tinha alimento suficiente. Muitas noites, acuado pela violência, ele ia para a cama com fome. Enciclopédias não eram itens importantes no orçamento familiar. E ao contrário de seu irmão gêmeo que recebeu tratamento médico para as verrugas, o bebê “B” não recebeu tratamento médico para os cortes de três polegadas no crânio que evidenciavam algum trauma bastante grave. As únicas estrelas que ele chegou a conhecer bem eram aquelas nas lapelas dos policiais que vinham para acabar com os tumultos da família. O Bebê B também gostava de música. Mas não havia dinheiro para um instrumento ou aulas. Um professor emprestou-lhe uma guitarra, mas o papai esmagou a guitarra encerrando a carreira musical do Bebê B permanentemente. E sob ameaça de uma surra, o Bebê B mentiu e disse que tinha perdido a guitarra. A admissão do descuido não foi bem recebida pelo seu maestro. O Bebê B não tinha aparência bem cuidada. Sua freqüente sujeira gerava desprezo e quando um de seus dentes da frente foi quebrado durante uma briga doméstica, o desprezo elevou-se a ridículo. Ele era amargo, solitário, faminto, confuso e envergonhado de tudo sobre si mesmo e sua existência. Agora, a pergunta é esta: Qual Bebê, A ou B, tem mais chances de se tornar um presidente de banco? (Claro, tem havido ultimamente um número preocupante de falências bancárias e muitas apropriações indébitas, mas é preciso reconhecer que, antes de um homem se tornar um presidente de banco incompetente, ele ainda tem de demonstrar competência e honestidade em seu caminho até essa posição). O Bebê A é claramente a nossa escolha. Por outro lado, podemos perguntar: Qual Bebê, A ou B, mais provavelmente de se tornará um ladrão de carros, um cafetão ou ambos? Claramente, o Bebê B é o nosso candidato para o crime. Sabendo o que sabemos sobre as suas respectivas criações, ousaríamos dizer ao Bebê B enquanto ele está sendo descartado para a prisão, "Canalha! Seu pedaço inútil de excremento! Olhe para o seu irmão... um crédito a Deus, família e o Jeito Americano de Viver... enquanto você não vale o custo para alimentá-lo na cadeia. você poderia ter sido limpo e bom como ele, mas nããããããão... você tinha que ser a escória..." e etc. Diríamos isso? Sim, diríamos; e sim, dizemos... Porque acreditamos na majestade de ego, na virtude como um simples exercício de obediência a regras. O Bebê B se se comportou de forma ignóbil. Ele tinha idade suficiente para buscar o melhor para ele. Cortem-lhe a cabeça. Será que nos sentimos justificados em elogiar Bebê A por suas boas ações? É claro. Nós nunca nos cansaríamos de recompensá-lo por sua bondade. As paredes e prateleiras de seu escritório estariam repletas de placas, troféus e todos os documentos que atestam a nossa apreciação de sua excelência. Ele viveria nos melhores bairros e pertenceria aos melhores clubes. Seus filhos estariam nas melhores escolas e se casariam nas melhores famílias. Eles esquiariam e nadariam e jogariam tênis. Eles falariam Francês. Quando o Bebê A falecer o elogiaríamos com lágrimas nos olhos, porque o admirávamos tanto por suas muitas qualidades e realizações. Quem iria chorar pelo Bebê B? A posição budista é que o Bebê B não merece mais culpa do que o Bebê A merece louvor. Imperador Wu: Eu tenho feito muitas boas obras. Quanto mérito eu recebo por elas? Bodhidharma: Nenhum. De fato, o Bebê A não teria como deixar de ser "bom" mais do que o Bebê B poderia deixar de ser "mau". A vida pode, de fato, desenrolar-se de forma melodramática, mas, em última instância, quando o público finalmente grita "Autor! Autor!" não somos aquele que se curva... Ou que foge do gancho. Nós não somos os criadores de nós mesmos. Genes, ambiente e destino colaboram para escrever todos os nossos cenários da vida. Sempre que estamos inclinados a julgar alguém, devemos lembrar que uma dolorosa história nem sempre se mostra no rosto de uma pessoa. Existem muitos tipos de feridas e as cicatrizes que a maioria delas não são orgulhosamente exibidas em nossas bochechas, como o schmisse de um Espadachim Prussiano. A maioria delas são deliberadamente escondidas justamente porque consideramos a nossa vulnerabilidade como vergonhosa. Embora o conto de nossos gêmeos tenha sido um evidente exagero, a simples verdade permanece. As pessoas não nascem em iguais circunstâncias ambientais. Nem nascem com iguais dotes genéticos. O Bebê B como irmão gêmeo poderia facilmente ter nascido com deficiência mental tanto quanto socialmente desafortunado. Nossas personalidades são tão diferentes em constituição que alguns de nós sobreviveriam ao pior tipo de violência psicológica, enquanto outros seriam derrubados por um único ato de rejeição. No Budismo dizemos que o mesmo homem não existe em dois minutos consecutivos. A cada minuto que passa ganhamos novas experiências e informações da mesma forma que ao mesmo tempo esquecemos antigas experiências e informações. Na segunda-feira, podemos lembrar o que tínhamos para o almoço do dia anterior, uma semana mais tarde, apenas um hipnotizador pode extrair esta informação de nós. Nossas mentes funcionam de forma mecânica. Os motores trabalham em conformidade com os fatos externos à sua fabricação e sua manutenção. Nós não julgamos ego do motor. Ele não tem nenhum. Nós, portanto, não podemos submeter o ego de ninguém a um julgamento. Pessoas justas não são recompensados com Nirvana por terem obedecido as leis e os criminosos não são negados ao Nirvana, por terem descumprido as leis. Não há egos no Paraíso e esse fato por si só deveria nos por de joelhos. A princípio isso pode parecer radicalmente diferente das outras religiões, como o cristianismo. Mas considere a posição cristã. Além de ser biblicamente proibido julgar os outros, os cristãos sabem que, independentemente da gravidade de seus pecados, mas se eles se arrependerem e sinceramente pedirem perdão a Deus, eles serão absolvidos de seus pecados. Se até mesmo um Adolph Hitler não é, necessariamente, desmerecedor da misericórdia de Deus, qual é então o significado especial de termos como bem e mal? Egos são ilusões do Samsara, assim como o bem e o mal são descrições samsáricas. Nós, como determinados elementos da sociedade, geralmente aplicamos tais descrições em pessoas ou eventos de acordo com o quanto parecem ser benéficas ou prejudiciais para nós. O que nos beneficia consideramos bom e, em seguida, tendemos a falar deaquele bem como se impregnasse toda a sociedade. "O que é bom para a General Motors é bom para o país". Ou, como nessa frase maravilhosa de sedução ministerial, "Cuidando do pastor, você cuida das ovelhas". O que é percebido como bem e mal, então, é frequentemente nada mais do que um deslocamento nos direitos ao poder, dinheiro ou prazer. Os deslocados e os deslocadores determinam qual é qual de acordo com perdas e ganhos em tais objetos de valor samsárico. Às vezes é difícil lembrar que quando um homem toma outro como seu inimigo, ele pode cometer atos terríveis contra ele. Isso não faz dele um demônio mais do que faz da sua vítima um santo. 2. Arrependimento É necessário diferenciar penitência e arrependimento. Somos apenas penitentes quando estamos tristes por termos permitido que nossos desejos se tornassem prejudiciais a nós mesmos ou aos outros. Penitenciárias são lugares onde as pessoas estão presas a fim de que passem pela tristeza e sofrimento por não terem posto freios em seus desejos. Quando estamos suficientemente tristes, ao ponto de estarmos desiludidos e alienados de tudo o que sempre desejamos, entramos no pântano. Ainda assim, não somos elegíveis para a salvação, até que nos arrependamos. Arrependimento vai além da aflição por ter anseios lesivos e se estende até a intenção clara e inequívoca de mudar, para eliminar os nossos desejos em sua fonte, para sermos salvos de nós mesmos. O desejo de se arrepender deve ser sincero. Nós não podemos preencher um formulário para sermos salvos. Não podemos contratar um bom advogado para nos tirar do pântano. Nós não podemos ser salvos ao herdar dinheiro ou dar o dinheiro que temos. Uma influência externa - um homem santo, um filho amoroso, um professor sincero, música ou drama - pode nos inspirar; mas a resolução para a mudança só pode ser formulada dentro de nós mesmos. Devemos estar conscientes de nosso egoísmo passado; reconhecer e lamentar o dano que fizemos; desejar mudar; reconhecer que a tarefa é muito grande para realizar sozinho; e apelar por ajuda ao único ser no mundo que pode nos ajudar, o nosso Eu-Búdico ou Deus. Nirvana e Samsara ocupam o mesmo tempo e o mesmo espaço. Eles não estão afastados um dos outro. Durante todos os dias de nosso arrependimento nós podemos nunca ter saído de casa. Podemos ter ido trabalhar todos os dias, cuidado do gramado no sábado, e assistido futebol no domingo (a vida não teria sido muito diferente disso se tivéssemos ido para um mosteiro). Independentemente de nossa condição espiritual, continuamos a ser fisicamente presentes no mundo. E neste mundo os problemas da sociedade, particularmente os problemas de crime e punição, devem ser abordados. Eles não são as questões fáceis de lidar, como veremos a seguir. Até mesmo especialistas têm dificuldade com eles. 3. Crime, punição e perdão Se o Zen Budismo teve um santo padroeiro moderno, esse santo seria Daisetz Suzuki. O Professor Suzuki, em grande parte através dos bons ofícios de Christmas Humphreys e da Sociedade Budista de Londres, trouxe o Zen para o Ocidente sozinho. Ninguém deu tamanha contribuição. Na pessoa do sacerdote lírico, Thomas Merton, os católicos romanos também tiveram um campeão moderno de fama igual a Suzuki. Merton, coincidentemente, mostrou um interesse favorável no zen-budismo. Felizmente para nós, esses dois gigantes da religião mantiveram uma vivaz correspondência. A disputa sobre as ações de um determinado grupo de Padres do Deserto1 é uma discussão clássica sobre alguns aspectos dos problemas de bem e mal, crime, punição e perdão. Todo budista deve estar familiarizado com ele. A história em questão diz respeito a um grupo de monges cristãos eremitas que viviam no deserto do Egito durante o século 4. Um bando de ladrões atacou um desses ascetas e os seus gritos chamaram os outros monges que os capturaram e os levaram para a cadeia. Quando seu abade soube do evento, ele criticou o monge que tinha clamado por ter sido traído por seus próprios pensamentos - ele não tinha imediatamente perdoado seus transgressores - e por ter colocado tanto valor em suas posses a ponto de gritar e fazer com que os ladrões fossem levados para a cadeia de sofrer punição. Este monge, tendo a repreensão ao coração, fui imediatamente para a prisão, abriu a cela, e permitiu a fuga dos ladrões. Merton ficou do lado do monge, ou aparentemente, dos ladrões. "Assim, os eremitas indignados têm, na realidade, muito mais culpa do que os ladrões, porque precisamente são pessoas como estas que provocam os homens pobres a se tornar ladrões. São aqueles que adquirem bens excessivamente para si e os defendem contra os outros, tornando necessário para outros roubar, a fim de ganhar a vida." Merton não detalhou as "excessivas" as posses destes monges eremitas que tanto inspiraram ou coagiram os ladrões a roubá-los. Suzuki levou a opinião contrária. "Somos todos seres sociais e a ética é a nossa preocupação com a vida social. O homem-Zen também não pode viver fora da sociedade. Não podemos ignorar os valores éticos." Suzuki reconheceu todas as virtudes do desapego e simplicidade, mas ainda assim pensou: "Os resultados da bondade interior do 'grande eremita' em liberar os ladrões da cadeia pode estar longe de ser desejável". O que fazemos, então, em relação ao bem e o mal quando entendemos por quê uma pessoa pode ter se tornado um criminoso e sentimos compaixão por ele por ter sido levado pelo destino para seu estado lastimável? O que fazemos com o pobre bebê B, quando ele cresce e bate em sua esposa e filhos? O que fazemos com ele se ele roubar o nosso carro ou assassinar nosso vizinho? Nada confunde mais as pessoas no caminho do que as questões relacionadas ao crime e às punições. Sabemos que devemos perdoar alguém que comete um crime contra nós. Mas o perdão por uma vítima significa que o criminoso não deve ser punido pela sociedade? Somos justos ao insistir que outra vítima perdoe o transgressor? Podemos perdoar alguém e ainda, em boa consciência, ajudar a sociedade em puni-lo? Uma sociedade civilizada é composta de uma mistura de homens, alguns civilizados e alguns, claramente não. Dentro dela, os santos são definitivamente uma minoria. Sociedades civilizadas exigem leis e punições não no sentido da dor física, pelo menos no sentido da remoção da sociedade para quem quebra as leis ou seja de alguma forma prejudicial. O que é que nos compele a respeitar a vida e propriedades de outras pessoas e a guardar respeitar as convenções de cidadania? Honra pessoal? Não, sistemas de Honra não funcionam. Será muitos de nós pagamos nossos impostos, no todo ou em parte, se não houvesse penalidades por falta de pagamento? Pior, não rotularíamos o sujeito que paga voluntariamente suas contas de um perdulário incorrigível? Uma sociedade de santos não precisa de lei. Uma sociedade de pessoas comuns não pode existir sem elas. Onde houver crime, deve haver punição. Perdoar alguém é deixar de abrigar ressentimento contra ele e para perdoá-lo é necessário cessar a vontade de puni-lo. Um santo compreende a sequência kármica de atos criminais de uma pessoa, a ama, apesar de seus atos, e sente compaixão por ela por causa de sua dor samsárica. Para aqueles de nós que não são santos, perdoar é deixar de abrigar ressentimento contra um transgressor. Nós o perdoamos pelo nos fez. Então, quando perdoamos e quando apresentamos queixa? A resposta, de forma simples e geral, está na natureza do crime. Se alguém insulta-nos, nós podemos desejar extirpar seus pulmões e não facilmente permitir que os pensamentos incômodos de perdão suplantem um desejo tão agradável. No entanto, com graça o suficiente conseguimos. Nós dizemos ao nosso advogado para esquecer a calúnia ou difamação e muitas vezes descobrimos, com alguma decepção, que ele já havia esquecido. Neste exemplo, nós somos os únicos feridos ou susceptíveis de serem atingidos pela ofensa. Quando, porém, não somos os únicos feridos ou susceptíveis de serem atingidos pela ofensa, a situação muda. Se alguém chama um homem um ladrão, ou de outro nome que lembre uma moral degenerada, o homem pode perdoar o seu acusador, se ele quiser, mas se a acusação é feita contra o seu filho ou filha, ele não tem mais muito o mesmo direito de ignorar o insulto. Ele não pode forçar aos outros o seu martírio. Ele deve defendê-los contra o ataque. Uma jovem mãe pode não querer ceder a despensa da família para que o Bebê B roube. Ninguém pode exigir que ela dê mais importância à história de má sorte do bebê B – por mais que seja verdadeira - do que ela dá ao bem-estar de seus filhos. Independentemente do eremita poder ser condenado por reagir, ela certamente não pode ser condenada por defender suas posses. Além disso, se a natureza do crime é dolosa e há alguma, mínima chance de que o criminoso possa voltar a cometer o crime contra outra pessoa inocente, o perdão de um homem não deve facilitar a vitimização de outra pessoa. O que pensaríamos se alguns ladrões armados assassinam todos em uma loja, exceto um homem, que depois se recusa a depor contra os assassinos porque ele os perdoou? Sabemos que o ideal seria não punir o Bebê B, temos de reabilitá-lo. O ideal seria se tivéssemos interferido em sua infância e tirado do seu ambiente abusivo e o colocado em um ambiente mais harmonioso. Sabemos também que nem todo criminoso vem de uma família flagrantemente abusiva. Alguns dos piores crimes da história foram cometidos por membros de famílias finas e de status elevado. A sociedade tenta, de fato, reabilitar indivíduos problemáticos. Para os jovens, há conselheiros escolares, albergues e reformatórios. Para adultos, os réus primários são rotineiramente tratados de forma leve. Juízes dão-lhes períodos probatórios de reabilitação e outros aconselhamentos de acordo com o que o sistema proporciona. Frequentemente, porém, o impedimento para o comportamento criminoso continuado é o medo da execução, ou, o que poderia ser ainda mais intimidante, considerando o estado deplorável de nossas prisões, o medo da prisão. O medo é um substituto pobre para orientação, mas às vezes o medo é o máximo em que a sociedade está disposta a investir. Infelizmente, muitos jovens entram no sistema quando eles já estão tão psicologicamente deformados que nada além que um milagre podria recuperá-los. Eles entram e saem de reformatórios, prisões menores e maiores e, com um rastro de luto das vítimas por trás deles, finalmente, terminam seus dias no corredor da morte. (É então que muitos budistas começam a prestar uma grande atenção a eles.) Nós, indivíduos Nirvanicamente ligados, podemos ver esses criminosos como vítimas - uma visão que é perfeitamente clara para todos os habitantes da cúpula, mas que não é tão clara para as vítimas dos criminosos que observam, momentaneamente pelo menos, a partir de pontos de vista samsáricos. O praticante Chan não pode ignorar as responsabilidades da cidadania. Se ele não gosta dos termos deste contrato social, ele pode mudar-se para outro país que lhe seja mais adequado. Mas enquanto ele permanecer dentro de um país, ele tem que cumprir as suas obrigações como cidadão mesmo enquanto exerce os seus direitos de pressionar, por quaisquer meios legais, para mudar de forma cuidadosa as leis e políticas das quais discorda. No entanto, na religião, encontramos muitas pessoas bem-intencionadas que insistem em aconselhar os outros a agir como santos. Na maioria das vezes essa pieguice religiosa é inofensiva. Um Praticante do Caminho pode rir ao ser instruído a se desfazer de seus bens materiais por um novato que fez voto de pobreza na última quinta-feira. Mas às vezes o conselho pode ser perturbador e envolver mais do que algumas ambiguidades legais desconcertantes. Por exemplo, é difícil pedir dinheiro emprestado a um santo. Se ele tem dinheiro para emprestar, ele vai dá-lo. Ele é responsável apenas para si mesmo e sabe como se dar bem na pobreza. Mas os praticantes do Caminho podem ainda não ter se despojado de seus bens, e podem ainda não estar livres das responsabilidades familiares para poder dar dinheiro. Eles podem concordar em emprestá-lo e independentemente da soma substancial, eles e seus familiares podem ser afetados se o dinheiro não é reembolsado. Se o devedor não pode, de forma alguma, pagar, o credor é espiritualmente obrigado a não apenas a esperar pacientemente pelo seu dinheiro, mas também para ver se há algo mais que ele pode dar ou fazer para ajudar o mutuário a resolver seus problemas. A situação muda quando o devedor diz que não pode pagar, mas mostra desconcertantes evidências de um poder de compra que prova o contrário. Nesse momento, os pretensos santos professam diretrizes para perdoar a dívida. Mas o que isso realmente significa? Tom deve a Jerry uma grande quantia de dinheiro e paga-lhe com um cheque "voador", e todos os cheques que Jerry passou, contando com o pagamento de Tom, por conseguinte, voltam. Jerry pode ser incapaz de cobrir esse déficit. Ele deve perdoar a dívida de Tom enquanto fica na cadeia vendo Jerry dirigir seu carro novo? Tom pode achar que soluções Nirvânicas são ótimas, mas Jerry tem algumas sérias dúvidas. Sem malícia ou auto-piedade Jerry deve tomar medidas legais contra Tom. Ele deve fazer isso não só porque os seus credores, provavelmente, entenderão o seu dilema (tendo, sem dúvida, passado pelos seus próprios Toms) e podem decidir esperar pelo pagamento, e não apenas porque Jerry tem um dever cívico de deixar um caloteiro fora de circulação e impedir a espoliação de outra vítima, mas também porque sem confronto consciente, não pode haver progresso espiritual. Tom tem que crescer e aceitar a responsabilidade para si. Ele tem que ser penitente. Ele tem que se arrepender. Ele não pode fazer isso se todas as suas vítimas perdoarem suas dívidas apenas para mostrar quão benevolentes e espiritualmente superiores eles são. Essa generosidade só serve para prejudicá-lo. E não contribui com o crescimento ordenado da moral da comunidade. Ninguém está sugerindo que o Tom seja açoitado ou mutilado. Mas um pouco de conselho - para não mencionar a restituição – é bem vindo. À lei deve ser permitido tomar seu curso. Se Jerry e Tom vivessem em um monastério, Jerry deveria discretamente procurar o Abade, que teria a obrigação de investigar a justificativa de Tom para não pagar; e se ele determinar que há culpa, toda a força de sua autoridade deve ser usada para conseguir o pagamento. Então, como Abade, ele deve aconselhar Tom até que sua falha de caráter seja corrigida. E se a falha não se eubmete a correção, o Abade deve tomar algumas decisões sérias a respeito de Tom. Ninguém quer ver o Bebê B punido por crimes pelos quais não pode ser responsabilizado por ter cometido; mas menos ainda queremos vê-lo livre em seus caminhos criminosos. Como cidadãos devemos querer vê-lo reabilitado. Mas como budistas devemos querer vê-lo salvo - e salvação não tem nada a ver com o sistema de justiça criminal. E este é o cerne da questão. Salvar o Bebê B não é salvá-lo da punição. Salvá-lo é salvá-lo de seu ego devastador. Para ajudar na sua salvação basta proporcionar-lhe uma inspiração para se arrepender. Pela instrução, pelo exemplo, e pela preocupação -- não com o lugar onde ele passará a residir fisicamente, mas pela alienação e rejeição que ele está sofrendo em sua própria mente -- vamos ajudá-lo. A mudança que necessária não é em seu ambiente externo, mas nele mesmo. Não acreditamos na felicidade redentora e vida eterna do Ser Búdico? Não acreditamos no poder transformador da graça de Deus? Estamos praticando alguma outra religião? E enquanto estamos no assunto, façamos uma suposição, um pouco cruel, que um Bebê B, no corredor da morte, tenha sem dúvida estado na prisão por anos antes da véspera de sua execução (que é a noite de vigília e de protestos para os tantos adversários da pena de morte). Mas onde estavam essas pessoas iluminadas que poderia ter-lhe mostrado o caminho durante todos os anos na cadeia? Por que existem tantos sacerdotes budistas que protestam contra a pena de morte e praticamente nenhum que trabalhe com presidiários? O caminho contém tantos obstáculos naturais que ele, é quase imperdoável que haja tantos conselhos mal-concebidos empurrados na frente do alpinista do Caminho -- conselhos que sempre parecem favorecer o criminoso em detrimento da vítima. A afirmação de Merton que as pessoas que possuem coisas de valor de alguma forma convidam e contribuem para o crime de roubo é do mesmo gênero idiota que a suposição de que uma mulher que é "extraordinariamente" bonita convida e contribui para o seu próprio estupro. Para reduzir seu risco ela poderia, talvez, desfigurar-se. Mas o que as crianças devem fazer para afastar a atenção de um pedófilo? Vestir trajes budistas não requer de um homem abandonar os princípios de jurisprudência ou de senso comum. Nós pecamos e somos algo do pecado de outros. O arrependimento é um fardo terrível, mas a salvação, quando chega, é uma conquista espiritual. A dor de ser vítima também é um fardo terrível, mas o perdão, em seu tempo, é um sacramento de libertação. Uma vítima que realmente perdoa o seu transgressor é exaltada. Ela é o lótus, a flor que se levanta acima da lama. Alguns anos atrás, na Irlanda do Norte, um grupo de civis foram vítimas de um atentado terrorista. Um homem e sua filha mortalmente ferida estavam sob os escombros à espera de serem resgatados. Horas mais tarde, quando o homem foi salvo, ele contou o evento: "Ela ficava cada vez mais fraca", disse ele. "Então ela sussurrou para mim: 'Eu te amo, papai'", e morreu. Eu chorei. Rezei. E eu os perdoei". Isto, no caso de alguém ter dúvidas, é a Iluminação. 4. Reencarnação A reencarnação não só possui seu mistério peculiar, também confronta-nos com alguns sérios problemas com relação à boa conduta. Como um número desconfortável de budistas acreditam em vida após a morte do ego, não podemos afirmar categoricamente que os budistas não acreditam em reencarnação. Podemos dizer apenas que alguns não precisam, alguns não devem, e alguns são tibetanos. Existem dois tipos de pessoas que não precisam acreditar: os que buscam status e aqueles que buscam consolo. Nós nos encontramos o primeiro tipo quando, por exemplo, o nosso barbeiro nos informa que em uma existência anterior, ele foi Gengis Khan. (Como devemos responder a isso?). E se uma confissão única da glória passada pode atordoar-nos no silêncio confuso, o que fazemos quando confrontados com várias pessoas que dizem ter sido a rainha do Egito Hatshepsut? Quantas rainhas Hatshepsut existiram? E como é que vamos abordar corretamente um reencarnado da realeza? E o que dizer de reencarnações transexuais? Como nos referimos à essas pessoas? Como, por exemplo, devemos aceitar uma correspondência, se a rainha Elizabeth I estiver habitando o corpo do carteiro? Suponha que sejamos espanhóis católicos... E o que se pode esperar como forma de gratificação sexual de uma mulher que nos instrui, como mordiscar sua orelha, mas que em outra época e em outro lugar que ela foi o grande inquisidor Torquemada? Mais do que algumas gafes estão em jogo aqui. Possivelmente porque o mundo estava sofrendo com uma infinidade de Cleópatras e Eleonoras de Aquitânia, de Leonardos da Vinci, Sófocles, e todos os homens e mulheres realmente importantes para a história já tinham sido tomados pelos amigos de alguém, tornou-se moda nos últimos anos reivindicar vidas anteriores de forma menos ostensiva (mas de alguma forma mais fascinantes). Se Eleonora da Aquitânia fosse uma filha bastarda, viveria nas mesmas circunstâncias históricas da rainha, mas, carregaria este fardo, e provavelmente este seria segregada nas sombras da história documentável, iludindo pesquisadores curiosos. Um investimento em um espírito anônimo gera conversas interessantes, sendo menos arriscado no que se refere a questionamentos e quedas de máscaras. Às vezes, amantes sentem felizes em dizer que seu amor é grande demais para uma vida e que deve ter chegado em um estado muito desenvolvido ou veio pré-fabricado. Eles podem especular que sua afeição passou por uma fase inicial nos corpos de Elizabeth Barrett e Robert Browning, Tristão e Isolda, ou Sr. e Sra. Cesare Borgia, dependendo se os viventes modernos identificam-se com os membros do Grêmio Literário, Jovem republicanos ou Máfia. É tudo muito complicado. O outro grupo de pessoas que não precisam acreditar em reencarnação são normalmente encontrados em tempos de luto. Eles tentam encontrar um pouco de conforto no pensamento de que um dia eles podem se encontrar com alguém que amam muito. A melhor fonte de consolo é, naturalmente, fornecida pela compreensão dos princípios budistas. Uma história muitas vezes contada sobre Buda Shakyamuni trata de uma jovem mãe que se enlouqueceu em luto pela morte de seu filho. Recusando-se a entregar o corpo da criança para a cremação, ela implorou ao Buda que administrasse um medicamento para reviver a criança. Ele concordou com a condição de ela buscasse um ingrediente necessário: sementes de mostarda obtidas em casas em que não tivesse havido mortes. Depois de uma busca inútil a mãe entendeu. Ela recuperou a compostura e se livrou seu triste fardo. Devemos observar que o Buda Shakyamuni não ofereceu anódinos banais ou placebos. Não deu nenhuma esperança de haver playgrounds alegres no céu, nem um corpo de outra criança à espera nos bastidores para receber o espírito que partiu. Ele pediu apenas que ela entendesse que a morte vem para todos e é um fato que os vivos precisam aceitar. Naturalmente, é difícil criticar tais crenças. A prudência exige que sejamos atentos e zelosos ao instruir outros. Dispensar sabedoria ao aflito é algo melhor se deixado para o sábio que, por definição, sabe quando deve tocar o tambor do Dharma e quando abafá-lo. As pessoas que não devem acreditar em reencarnação são aquelas cujas vidas são governadas pela cobiça e pelo orgulho e que empregam a teoria para promover ou defender suas vãs ambições. Confirmada a sua suposição ignorante de que a agonia atual é castigo divino por causa de uma iniquidade do passado, essas pessoas consideram os pobres não apenas como merecedores da pobreza, mas sortudos por terem renascido como seres humanos. (Afinal, eles poderiam ter renascido como animais.) Estes crentes, consequentemente, orgulham-se de suas boas fortunas, oferecendo-se como modelos de virtude a todos os que desejam renascer de forma tão esplendorosa. Tais crenças raramente se prestam a correção, a menos, é claro, que a providência intervenha com um desastre apropriado. Talvez o maior grupo de crentes que deva descartar as suas opiniões sobre reencarnação são aquelas pessoas crédulas que se prendem a espíritos ou médiuns. Sob hipnose ou transe auto-induzido algumas pessoas são capazes de descrever, de forma maravilhosa, uma gama informações técnicas ou históricas sobre uma pessoa, a cultura, ou assunto de qualquer tipo e criar a partir de todos estes pedacinhos de dados uma personalidade específica ou uma intuitiva porém "folclórica" expertise. Esse exercício de imaginação construtiva exige um alto grau de sugestionabilidade, no entanto, de vez em quando alguém surge com o talento necessário para isto. A capacidade de recordar uma vida passada sob hipnose ou transe auto-induzido está relacionado com a glossolalia, o "falar em línguas" frequentemente associando com o Cristianismo. As pessoas no meio de uma experiência religiosa profundamente emocional podem sair cantando ou falando sílabas estranhas. Ocasionalmente, uma pessoa extasiada pode gravar mensagens em um idioma desconhecido. Mas apesar das tentativas mais entusiastas de tradução, esses escritos sempre provam ser absurdos. Devido ao potencial maléfico destas canalizações espirituais no presente, vamos examinar alguns dos fantasmas que se escondem forjados na mente humana e se manifestam no mundo assustador dos salões religiosos. Nos últimos cem anos, houve dois casos particularmente bem documentados de regressão à vidas passadas que merecem atenção. Na virada do século, uma famosa paranormal francesa, Catherine Elise Muller (conhecida como Helene Smith), que surpreendeu a Europa pela habilidade de recordar suas vidas passadas como uma princesa indiana, Simandini, como a rainha Maria Antonieta da França, e como a Virgem Maria, entre outras. Helene Smith também foi uma turista frequente em Marte e foi capaz de facilmente conversar com seus amigos contemporâneos que em outrora eram nativos daquele planeta. Possuidora de um alto grau de alfabetização e cultura ela gravou, em detalhes, um alfabeto marciano e escreveu muitas mensagens nesse idioma. Os franceses, que por muito tempo consideravam sua língua a melhor do mundo, ficaram muito felizes ao descobrir que sua gramática e sintaxe são as melhores em dois mundos. Isso porque o idioma marciano, observaram, foi estruturado de forma idêntica para o francês, a língua nativa da Madmoiselle Smith. Além disso, para o benefício dos costureiros parisienses, ela esboçou as modas atuais em Marte. W-fashion, o estilo Unissex em Marte. Estilo unissex estava em voga, todos usavam calças macias e uma camisa comprida e decorada, com amarras na cintura. Smith, na qualidade de "médium encarnada" ou "veículo" de Marie Antoinette também escreveu cartas, e não incomodava nem um pouco seus seguidores que a letra dela em nada se assemelhava com os documentos escritos a mão pela Rainha. Também não estranhavam as referências que Maria Antonieta fazia a telefonemas, barcos a vapor, e coisas do tipo. Smith logo conheceu Theodore Flournoy, professor de psicologia da Universidade de Genebra, que assiduamente narrou seus transes. Flournoy concluiu que todas as suas personalidades e suas declarações eram os produtos de sua própria mente, mas tendo determinado que ela claramente não estava fingindo os transes, ele nunca duvidou de sua sinceridade. Apesar do fato de ela ter identificado Flournoy como o amoroso marido em sua vida anterior como princesa Simandini, ela ficou tão zangada com ele por sua recusa em reconhecer suas personalidades reencarnadas, que ela se divorciou dele, por assim dizer, e nunca mais falou com ele novamente. Ela recuou mais e mais em seus mundos imaginários e até que no final de sua vida estava vivendo em tempo integral na personagem da Virgem Maria. Mais recentemente, mas também muito documentado, foi o caso de Bridey Murphy que cativou os Estados Unidos durante os anos 50. Morey Bernstein, um empresário e hipnotizador amador, usou uma técnica de regressão em uma amiga, Virginia Tighe. Pediu para ir mais longe e mais para trás em sua própria vida, e Tighe subitamente começou a falar estranho, confirmando finalmente que ela tinha oito anos, que o ano era l806, e que seu nome era Bridey Murphy de Cork, na Irlanda. Durante sessões subseqüentes, Bridey ditou sua autobiografia. Nascida em l798, a filha de Duncan Murphy, um advogado, e sua esposa, Kathleen, Bridey viveu na Irlanda até que morreu em l864. Ela disse que quando tinha 20 anos se casou, na Igreja de Santa Teresa, com o Sr. Sean McCarthy, que a levou para Belfast, onde lecionou Direito na Queen's University. Eles não tiveram filhos. Depois de uma vida longa e feliz, ela e o marido foram enterrados em Belfast. Mas apesar de sua longa residência na Irlanda, ela não sabia citar sequer o nome de uma única montanha na Ilha Esmeralda, nem mesmo estimar a distância entre Cork e Belfast. Pesquisadores não puderam encontrar qualquer registro de uma criança ou um advogado ou professor de Direito da Queen's University, ou mesmo uma Igreja com o nome de Santa Theresa. Em suma, embora ela tivesse morrido menos de cem anos antes e não era indigente, não havia documentos em qualquer lugar que pudesse fundamentar uma única linha de sua autobiografia. O caso começou a cair no abençoado esquecimento depois que um jornal informou que, embora Virginia Tighe tivesse crescido em Chicago, ela tinha uma vizinha próximo com o nome de Bridie Murphy Corkell. Tighe prontamente admitiu que a conhecia e frequentava sua casa, mas insistiu não conhecia ninguém além da Sra. Corkell. Apesar dos volumes escritos que tratam e explicam os casos de glossolalia, escritas de espíritos reencarnados e mediunidade, um número surpreendente de pessoas inteligentes se reúnem em torno de vítimas deste deslocamento psicológico, incentivando os seus delírios e, em muitos casos, tornando-os uma atividade rentável. Os médiuns podem se tornar figuras cultuadads se eles têm pretensões altruístas e estão inclinados a fazer sermões sobre temas como amor e fraternidade universal, vida saudável, eliminação da pobreza mundial, elevação da consciência e redução da criminalidade, etc. Mas o curso que estas religiões tomam é de raramente demonstrar a menor preocupação com alguém fora da seita. Não encontramos Madres Teresas entre eles. Podem realizar um longo e difícil trabalho, mas sua finalidade é sempre a de enriquecer e glorificar o seu líder. Quando os familiares e amigos de fora do grupo ficam alarmados com o fanatismo de adoração de herói e começam a expressar sua preocupação ou a tentativa de desmascarar a fraude, membros da seita frequentemente entram em um teimoso "eles-contra-nós", uma forma incipiente de paranóia dominada pela sombra. Budistas que sabem que Deus não é Siddhartha Gautama são menos propensos a acreditar que Ele é um pregador da Coréia, um guru Indiano ou um evangelista em um enclave na selva Guiana. Mas sempre que os budistas concordam com a possibilidade da reencarnação, involuntariamente dão credibilidade às opiniões dessas pessoas. Como já mencionado anteriormente, existem muitas escrituras "Budistas" de inspiração Jainista e Hindu que e reforçam essas alegoria. Mas mesmo assim, todos os textos budistas, incluindo os mais influenciados pelo jainismo e hinduísmo bramânico, afirmam claramente que estamos automaticamente libertos das "rodadas de nascimento e morte" no momento em que entramos no Nirvana. Isto é precisamente o que devemos esperar, uma vez o mundo do Nirvana é, indiscutivelmente, o mundo real. No mundo real existe apenas a Natureza Búdica. Sem egos. Ninguém mais habita. É a vida que todos nós vivemos, aqui, agora e eternamente. A reencarnação, então, é uma crença na qual só pessoas no Samsara podem se entreter. No mundo da ilusão, você pode nascer e morrer quantas vezes quiser. Os budistas tibetanos são uma classe a parte. Nem maldade nem vaidade fundamentam sua crença na reencarnação. É tão fundamental, tão intrínseco à sua maneira, que é difícil imaginar a sua religião sem ela. Ao morrer, os tibetanos não têm uma suave noite de sono. Eles entram no tumultuado Bardo entre dois mundos e, se forem suficientemente preparados (adepto de algumas árduas técnicas de meditação) rapidamente re-emergirão em um novo corpo. Às vezes é preciso uma vida inteira para se preparar para a próxima. 5. Karma Karma é a rede de eventos a partir da qual e na qual a nossa existência é tecida. Karma - que nunca deve ser considerado como castigo divino, seja como punição ou como recompensa - pode ser pensado como destino, desde que o que se entenda por isso não seja predestinação. A maioria das pessoas consideram, de forma incorreta, que o carma é uma espécie de folha do livro da razão no qual o Grande Contador no Céu registra nossos débitos e créditos, nossas boas e más ações. Segundo essa visão, na nossa morte ou antes, se necessário, a folha do livro razão é compilada e, dependendo dos excessos de virtude ou da falta dela, somos recompensados ou punidos. Nesta vida ou na próxima, nós nos encontramos em circunstâncias alteradas. Para aceitar esta noção tola, devemos crer que todas as vítimas de certo desastre foram igualmente merecedores do castigo ou devemos assumir que, quando uma epidemia atinge uma população, todas as pessoas que contraem a doença são culpadas de alguma coisa - os que morrem são mais culpados do que os que ficam deformados ou debilitados. Da mesma forma, todas as pessoas que nascem bonitas são, ou foram, melhores do que pessoas que nasceram feias. E as pessoas nascidas bonitas e ricas são as melhores pessoas de todas. A crença nesse tipo de karma é considerada benéfica para aqueles que sofrem, porque os ajuda a aceitar o infortúnio com graça e dignidade e a lutar, apesar de seus desconfortos, para levar uma vida mais correta. Acredita-se também ser um incentivo aos mais afortunados para continuar se comportando da mesma maneira meritória. Não há fim para o absurdo. Como Karma é, de fato, uma rede inteira, nenhum evento pode ser isolado ou retirado cirurgicamente entre a miríade de elementos causais que o precedem e emaranham-no. Cada evento é um elo, um nó de ligação que é composto de segmentos que levam a outros nós. Quando somos crianças, entendemos isso perfeitamente. A mãe diz para o seu filhinho:
- "Eu quero que você se comporte e seja bonzinho quando visitar a tia Jane." Uma criança percebe que não existem sistemas fechados, ocasiões que se geram espontaneamente. Todos os eventos são elos de uma conexão de causa e efeito, uma rede de eventos. Eles são fatores e produtos. Adultos, no entanto, tentar rasgar a rede, para isolar um nó e, em seguida, determinar que aquele nó suporta todos e os outros que parecem irradiar a partir dele. A vida não funciona desta forma. Em uma rede, todas as peças estão interligadas. Todos nós já ouvimos: "Por falta de um cravo, perdeu a ferradura". Um cavalo foi indevidamente ferrado, uma vez que faltou um cravo para a ferradura. O cavalo é montado por um mensageiro que tem informações cruciais para um comandante no campo batalha. Munido desta informação, o comandante será vitorioso. Sem ela, ele será derrotado. A ferradura não tem um cravo e cai, uma vez que o cavalo é incapaz de continuar, a informação não chega ao comandante e a batalha está perdida. Esta concatenação de causas e efeitos é o que se entende por karma. Não adianta especular, "Ah, mas mesmo se o cavalo tivesse sido devidamente calçado, algo mais poderia ter acontecido para impedir a entrega da mensagem". Possível e provável não tem nada a ver com karma. A razão pela qual o ferreiro não ferrou o cavalo corretamente pode ter sido que ele foi morto antes que pudesse terminar... ou ele estava bêbado... ou ele estava exausto... ou ele estava sem cravos... ou o seu cliente estava com pressa e disse que o trabalho já estava bom o suficiente. Existe uma causa antecedente do efeito do cravo em falta, e aquela causa é em si um efeito de alguma outra causa. A rede é infinita. E na tentativa de decidir para quem este karma do campo de batalha foi bom ou ruim, nós perdemos ainda mais tempo. Vamos considerar um evento, a queda de um avião. Mr. Doe está em seu caminho para o aeroporto quando a carteira é roubada. O avião sai sem ele. Ele isola este evento e julga ser ruim. Enquanto ele declama sobre a sua sorte podre e amaldiçoa o ladrão, ele descobre que o avião caiu. Agora ele julga o roubo bom e ele abençoa o ladrão. Poucos dias depois, ele descobre que tem uma doença fatal que irá causar-lhe grande dor e também irá arruiná-lo financeiramente, deixando sua querida esposa arruinada. Ele também descobre que as famílias das vítimas do acidente receberão grandes indenizações. Agora, ele amaldiçoa o ladrão, pois se o ladrão não tivesse roubado a carteira, ele estaria no avião e teria sido poupado de uma morte longa e agonizante e sua querida esposa seria financeiramente segura. Mas enquanto ele está no tormento, sua esposa foge com seu melhor amigo. Agora, ele abençoa o ladrão por ter roubado a carteira que o fez perder o avião que impediu sua mulher de se tornar rica e gastar o dinheiro se divertindo com seu pérfido amigo. Enquanto esses eventos dizem respeito a nossa existência no mundo do Samsara, nós simplesmente não temos nenhuma maneira de julgar o que é karma bom e o que é ruim. Se tivermos sorte, somos levados pela cadeia de eventos para o Nirvana. Em algum momento estamos receptivos a uma força inspiradora. Nossos ouvidos estão abertos no momento em particular em que o sino é tocado nos chamando. Nós ouvimos e seguimos. Se não tivermos sorte, podemos morrer sem nunca ter ouvido o cahamado. Sabemos que fomos realmente salvos quando estamos tão felizes pela salvação que podemos rever todos os nossos infortúnios e entender que se um só destes eventos não acontecesse exatamente como o foi, não poderíamos ter chegado a costa da salvação. Em outras palavras, ser verdadeiramente salvos é aceitar sem rancor tudo o que aconteceu em nossas vidas. É claro, lamentamos pelas injustiças que fizemos. Mas a salvação permite-nos, finalmente, entender os nossos próprios crimes, entender os crimes dos outros e perdoar a nós mesmos assim como perdoamos aos outros. Esta é uma vitória rara, é por isso que aqueles que são salvos são contados entre os grandes vencedores da vida e aqueles que não são demasiado numerosos para contar.
Notas de tradução:
O Sétimo Mundo do Buddhismo Chan
Capítulo 9: Correto Entendimento, Página 1 de 1 |
Última modificação:
Dezembro 18, 2011
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