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Início : Literatura : O Sétimo Mundo do Buddhismo Chan
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Kannon (Guan Yin)

O espaço entre o sexto mundo e o sétimo

Mas cada homem ou mulher que realmente sofre a crise de desilusão, no Pântano, vai muito comumente achar sua dificuldade exacerbada por confusão e sentimentos de alienação. Ele vai saber que o seu padrão de valores deve ser reavaliado, mas não saberá como realizar tal revisão. (O sujeito não pode ser seu próprio objeto, da mesma forma que um olho não pode ver a si mesmo.) Uma vez que o seu julgamento já se mostrou não confiável, ele não sabe para onde pode se virar ou em quem pode realmente confiar. Suas estratégias antigas não são efetivas, já que as regras do jogo mudaram tão drasticamente. Tanta coisa vai parecer estar errada de uma vez só que ele verá a si mesmo cercado por toda a parte. A tensão que ele sente será tão opressora que para alivia-la ele pode, imprudentemente, consumir álcool ou drogas e dar, conseqüentemente, mostra pública de que ele está fora de controle e foi além dos seus limites. Ou ele pode ocultar seu desespero dos outros e sofrer em segredo. Ele não verá o perigo em nenhuma das duas respostas, uma vez que sua emergência vai evitar que ele pense racionalmente a respeito do futuro. Ele não se dará conta de que ele está em guerra consigo mesmo e que o monopólio do seu ego sobre o seu destino foi finalmente desafiado.

Ali no Pântano ele vai, muito confusamente, se encontrar rodeado pelos mortos e moribundos, pelos drogados, os bêbados e os loucos. Pode não ocorrer a ele imediatamente que ele brevemente pode ser um deles. Ele é, até agora, apenas um estranho num lugar estranho.

Três formas de ação estão abertas para ele: (1) Ele pode notar os sinais distantes do refúgio piscando na montanha Nirvânica. De muitas formas diferentes, religiões de salvação sempre apregoam sua habilidade de ajudar pessoas aflitas. Se ele é espiritualmente precoce - e freqüentemente as pessoas das quais menos suspeitas temos de terem potencial espiritual se mostram as mais divinamente abençoadas - ele pode não levar muito tempo para avaliar sua situação. Ele pode rapidamente sentir que a felicidade não pode consistir no mundo exterior a ele mesmo e que se ele precisa sobreviver, ele já não pode continuar a definir a si mesmo em termos das suas relações com outras pessoas (o equivalente religioso de tentar dividir por zero.) Preocupado agora pela primeira vez com a segurança da sua própria alma, ele pode começar a nadar em direção ao delta do Nirvana. (2) Ele pode olhar para trás e ver família, amigos, propagandistas de TV,e uma variedade de assistentes sociais, todos tentando alcança-lo e puxá-lo para dentro da Roda de novo. Eles vão assegurá-lo de que ele encontrará vida nova se ele tão apenas reformar seus dentes, comprar um carro esporte, entrar num clube de saúde, re-estilizar o que sobrou do seu cabelo, fazer pequenos investimentos, ou freqüentar encontros sociais de pessoas igualmente aflitas.

Se ele aceitar a ajuda deles e experimentar todas as receitas ineficazes dos Seis Mundos para curar desespero, será apenas uma questão de tempo até que ele descubra que um cabelo escovado não pode resolver uma crise existencial nem um aparelho de som moderno secar um chamado espiritual para guerra. Nada haverá mudado para melhor. Ele ainda se sentirá como um alien... confuso e, depois de alguns meses desses paliativos, um alien falido. Sua infelicidade vai se intensificar igualmente e ele retornará ao Pântano em pior condição do que quando saiu.

Se ele desenvolveu sérios problemas com álcool, drogas ou outros comportamentos auto-destrutivos, a família, os amigos, os anunciantes de TV e uma variedade ainda maior de assistentes sociais vão redobrar os esforços a fim de resgatá-lo novamente. Toda sorte de torniquetes samsáricos serão aplicados no seu ego, que sangra. Vendedores agora o direcionarão para hospitais privados, que garantem reestabelecer sua dignidade, uma dignidade que será ignorada assim que o dinheiro acabar. Amigos irão parecer mostrar empatia, "Vou pela graça de Deus", até que o amigo perdido se transforme num desagradável convidado para o jantar ou é indelicado o suficiente para pedir um empréstimo ou uma carta de recomendação pessoal - pedidos que no melhor dos tempos podem ser fatais para uma relação. (Neste ponto os amigos normalmente reavaliam suas reservas de simpatia e o consideram digno de um empurrãozinho pro inferno. Familiares vão reconsiderar os laços sanguíneos. O seio gentil do amor filial ("Filho, estamos com você em todos os passos da estrada") vai comumente enrijecer e se tornar uma armadura de ferro caso o filhinho tropece ("Sua mãe eu não nos importamos com o que você enfia no nariz, contanto que você não faça isso perto de nós"). Trabalhadores sociais vão persistir nos seus esforços depois que todos os outros tiverem cessado de admitir a existência do homem decaído. Não importa o quão terrível a vida de um cliente tenha sido na Roda, um estudioso de caso vai tentar puxá-lo de volta para mais. Algumas pessoas que voltam para o Samsara alcançam algum nível de reintegração. Alguns ficarão curados por mais de duas semanas. Mas muitos, decidindo que as curas Samsáricas são piores do que as doenças do Pântano, re-entrarão no Pântano mais uma vez. Chega de estar sóbrio. Chega do final. Indo e voltando. Perdido e "resgatado" até que a sua ruína esteja completa. (3) Um homem pode se voltar nem para a Montanha nem para a Roda. Cego e surdo para qualquer coisa que não sejam suas batalhas interiores, ele pode perecer nas águas, sendo de uma só vez o assassino e o assassinado.

Uchiyama Roshi do Templo Japonês de Antaiji gosta de descrever essa auto destruição como uma situação que começa com o homem bebendo o sakê, depois de um tempo, se torna o sakê bebendo o sakê e finalmente termina com o sakê bebendo o homem. E assim é com uma variedade de drogas, legais e ilegais, que começam prometendo libertar um homem de seus problemas e terminam piorando os seus problemas e o matando no processo.

É triste notar que aqueles que expressam um interesse em encontrar refúgio na religião nunca recebem encorajamento das pessoas que estão na Roda. Ninguém no Samsara aconselha a um homem de ego ferido a procurar tratamento religioso para suas feridas.

O mundo do ego simplesmente não reconhece o mundo separado e distinto do espírito. Em termos de geografia espiritual, a Montanha do Nirvana sequer pode ser vista da Roda do Samsara. As pessoas na Roda não sabem que para chegar ao Nirvana é absolutamente necessário lidar com o Pântano. (Não existe outra alternativa). Eles acreditam que o Nirvana é simplesmente um estado refinado ou uma altitude mais elevada do Samsara. Eles aceitam a existência de pessoas espiritualizadas, talvez, mas supõem que a espiritualidade delas é meramente uma condição de um ego alterado, um ego, talvez, que tenha se livrado de todo o mal e pecado, e como recompensa foram elevados e glorificados. Eles não conseguem conceber a idéia de perderem seus egos, uma perda, eles acham, igual a perder suas mentes ou no mínimo, sua humanidade. Para eles, criaturas sem ego são criaturas sem identidades: vegetais, amebas, e lunáticos - grupos em que ninguém, por vontade própria, inclui a si mesmo.

Além disso, mesmo que eles admitissem que desilusão e alienação são problemas religiosos, eles interpretariam de forma errada os termos da solução. Egos, por natureza, tentam veementemente dominar outros egos, um controle que invariavelmente se estende a interesses financeiros. Pessoas no Samsara instintivamente temem que a religião possa liberar a pessoas de suas posses assim como libera de suas dores. Jesus deve ter aconselhado aos que queriam se tornar seus discípulos a dar seu dinheiro para os pobres, mas nenhum cristão aconselha um parente a ser tão descuidadosamente generoso. Nem mesmo amigos ou assistentes sociais aprovam tal heresia. Muitos vão sugerir a um homem ferido a falar com seu padre ou a passar algum tempo na igreja; mas uma vez q noviços freqüentemente transferem suas propriedades para as ordens religiosas nas quais entram, eles não vão aconselhá-lo a tomar refúgio num monastério. Eles vão, no entanto, aceitar sua procuração, para tomar conta dos bens, enquanto ele se interna num sanatório.

O Sétimo Mundo do Buddhismo Chan
Capítulo 6: O espaço entre o sexto mundo e o sétimo, Página 2 de 3
 

 
ltima modificao: September 20, 2009
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