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O espaço entre o sexto mundo e o sétimo
Mateus, 21:42 No buddhismo, nós algumas vezes imaginamos que entre a Roda do Samsara e a Montanha do Nirvana estende-se um pântano escuro e mortal, um tipo de lacuna espiritual ou bardo cheio de almas que sofrem. Essas são as pessoas que pularam, caíram ou foram empurradas para fora da Roda quando suas estratégias de sobrevivência pararam de funcionar. Como Samsara é o mundo visto através dos olhos preconceituosos do ego, e Nirvana é a realidade apreendida diretamente, o espaço ou pântano é o lugar onde a transição de um modo a outro de consciência é possível... não inevitável, mas meramente possível. O Espaço, então, é o período crítico de desilusão em que uma pessoa entra quando quer que, repentinamente, ela descobre que seu ego está funcionando mal enquanto árbitro da realidade. No momento em que a pessoa nota que alguma coisa está intrinsecamente errada, que ela está cometendo terríveis erros de julgamento e que as coisas ou pessoas nas quais ela teria apostado sua vida não são o que ela achava que fossem, ela entra no pântano. Este indivíduo pode ter até levado sua vida com confiança e eficiência, mas no Espaço ele duvida da sua habilidade de lidar com a vida em todos os sentidos. Uma variedade de coisas pode catapultar um indivíduo para o Pântano. Às vezes ele é esmagado por um evento que seu ego vê como uma catástrofe pessoal: a morte de um ente querido; uma traição; uma doença ou enfermidade muito séria; uma falha ou rejeição humilhantes; ou talvez mesmo uma dificuldade aparentemente insignificante que acabou por levar a um ponto crítico uma massa de acumulação de pequenas misérias. Às vezes ele simplesmente não pode aceitar a ordem natural das coisas, impermanentes, como quando ele nota os efeitos destrutivo da idade na sua face, no seu físico e na sua virilidade ou quando os filhos crescem e o excluem de suas vidas privadas, relegando-o a menos papéis do que ele está acostumado a ter. Às vezes ele investe muito de si mesmo num trabalho, credo ou estilo de vida e experimenta, ao descobrir que seu investimento foi feito tolamente, as mortificações do empobrecimento. Uma outra forma peculiar, porém comum, de introspecção conflituosa é o súbito despertar de um indivíduo para o fato que de a fase de "tornar-se" da sua vida acabou, que ele já é o que quer que ele tenha sido destinado a ser, e que a resposta para a pergunta "É só isso?" é tristemente afirmativa. Independentemente da causa, sempre que uma pessoa é suficientemente chocada por uma revelação sobre a falibilidade do seu ego, ela estará imersa nas águas da desilusão. Não significa dizer, no entanto, que porque todas as pessoas encontram sérios problemas na vida, todas estarão, mais cedo ou mais tarde, no Pântano. Alguns egos podem suportar qualquer adversidade. Muitos homens podem enterrar os filhos pela manhã e tratar de detalhes dos negócios ao meio dia, ou podem sobreviver à experiência mais brutal e antes que o sangue seja lavado de seus corpos, começarem a discutir os preços sobre os direitos sobre a sua história, ou podem mesmo passar por um trágico acidente e ser levado a ponderar nenhuma questão a não ser as ligadas aos méritos da disputa judicial. Nem deve se supor que as pessoas automaticamente deixam para trás seus lugares no Samsara durante o simples curso do crescimento. Enquanto é verdade que a maioria dos que confrontam os crimes e tolices dos seus egos são de meia idade, existem muitos exemplos de destaque de pessoas muito mais novas que fizeram a transição e, por outro lado, pessoas muito mais velhas que nunca deixam o Samsara. O Buddha saiu da sua vida samsárica aos vinte e nove anos. Shankara, famoso no Vedanta, já tinha fundado muitos monastérios quando morreu aos trinta e dois anos. Sri Ramana Maharshi, o grande santo indiano que morreu em 1954, chegou à maturidade espiritual ainda na adolescência. Como para aqueles que se apegam à vida do seu ego-ilusório e alcançam a velhice com sua carcaça intacta, encontramos muitos que estão tão obstinadamente absorvidos em si mesmos aos sessenta e cinco anos como estavam meio século antes, quando eram adolescentes. Diferentemente de seus semelhantes que amadureceram com a idade - o sinal claro de diminuição do ego - muitos idosos tem egos ainda tão fortes, mesquinhos, gananciosos, cheios de capricho e exigentes de atenção como sempre. Não falamos aqui de sociopatas ou desocupados, nem dos que estão inseguros por causa da idade. Um número assombroso de pessoas perfeitamente saudáveis e, de outra forma respeitáveis, escolhem uma variedade de pequenos delitos para satisfazer caprichos egoístas. Gerentes de supermercado localizados em áreas prósperas de comunidades de aposentados, apenas para mencionar um triste exemplo, tem de tomar um posicionamento severo contra roubos e agüentar a publicidade negativa de ter alguma "pobre e faminta velhinha" presa, desde o momento em que se determina que o que a Vovó estava roubando era patê de fígado de ganso e caviar. (Vovó sabe que pode ser presa tanto por um crime grande como por um pequeno). E qualquer pessoa que trabalhe com trânsito pode confirmar o número aterrorizante de motoristas idosos que são cegos para objetos a mais de três metros de distância e tem reflexos medidos em minutos, e que ainda assim insistem no seu direito inalienável de operar um veículo numa rodovia. Não somos todos ordenados a desistir graciosamente.
O Sétimo Mundo do Buddhismo Chan
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ltima modificao:
September 20, 2009
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