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Ming Zhen Shakya, OHY
O que é Zen Buddhismo?
Parte II - Samsara e Nirvana
pela Reverenda Ming Zhen Shakya

A meta de qualquer técnica meditativa é transcender a consciência do ego, que é sair da consciência do próprio eu para um estado no qual o ego não existe. Isso é algo muito difícil de conseguir, e essa consciência defini uma divisão de experiências.

De um lado nós temos o Nirvana ­ amores incondicionais, valores permanentes ­ o mundo Real, nosso paraíso. Não há egos ou julgamentos, somente Deus em todos os seus Aspectos ­ e paz, alegria, veracidade e liberdade ­ e o movimento Eterno. Nós entramos no Nirvana através da meditação.

No outro lado nós temos o ego ou o Samsara, como o chamamos.. esse é o equivalente Buddhista do Inferno... É o mundo da ilusão ­ aparências, julgamentos, opiniões, valores e amores condicionais... O mundo que mede a distância e a história pelo Meridiano de Greenwich.

Samsara é o mundo infernal do tempo e espaço e das formas mutáveis que a energia assume, o mundo flutuante que é apreendido pelos sentidos e presidido pelos julgamentos do ego. Esse é o mundo que o Buda descreveu como sendo "pequeno e doloroso".

Porque nós chamamos o Samsara de Inferno? Vamos dar uma olhada no mundo do ego. Suponha que eu veja uma mulher que está vestindo um suéter amarelo. Eu estaria me expressando de maneira Nirvânica se eu simplesmente dissesse: "Eu vejo uma mulher vestindo um suéter amarelo." Eu estaria me expressando de maneira Samsárica se eu dissesse: "Eu vejo uma mulher vestindo um suéter amarelo medonho." Por meu estado preconceituoso, por minha usurpação egoística do exaltado ranking de "Árbritro da Moda", eu coloquei-me no Inferno do Samsara - porque eu devo agora preocupar-me em julgar cada peça de roupa que eu vestir. Eu devo gastar muito do meu tempo e energia, e meus recursos financeiros, para ter uma boa aparência, porque eu não quero nunca ser pega vestindo uma peça de roupa medonha. Ninguém irá me amar só por eu vestir-me bem; mas se eu cometer um erro e vestir-me mal, então aqueles que eu critiquei irão, alegremente, ter a oportunidade que desejam para concretizar sua vingança.

Em todos os nossos julgamentos egoístas ­ sobre roupas ou arte - ou nossas opiniões instantâneas sobre se outras pessoas são julgadas ou inocentes, ou acerca de sua sinceridade e ambiguidade ­ sobre quaquer coisa, enfim ­ nós nos colocamos em um risco infernal. Jesus disse isso de uma melhor forma: "Não julgues e não serás julgado."

No Samsara nós acreditamos que um homem que dirige um Cadillac é melhor do que um homem que dirige um Ford, porque um Cadillac é melhor do que um Ford. Certo? E o homem que usa um Rolex aproveita melhor seu tempo do que um outro que usa um Timex... Não é assim que as coisas são? No Samsara, nós acreditamos que a qualidade de uma posse adere, magicamente, àquele que a possui. Pessoas que têm um monte de lixo caro são muito mais felizes do que aquelas que têm um monte de lixo barato. Quão doloroso é aprender que essa crença é falsa... Que isso é uma ilusão é, ela mesma, a definição de enganação.

Thorstein Veblen, o grande economista, escreveu um livro chamado The Theory of the Leisure Class (A Teoria da Classe Desocupada). Ali, ele compara talheres de prata pura a talheres de aço inoxidável. Se você comer ovos ou tomates ­ ou muitos outros tipos de comida ­ com prata pura, vai preceber o efeito de uma reação química que que deixa a comida com gosto horrível. Você não tem isso com aço inoxidável. Então, aço inoxidável é de muitas maneiras superior à prata. Mas sejamos honestos: uma grande anfitriã antes cometeria harakiri com uma faca de pão do que por à mesa menos que a mais pura prata.

Em sua famosa Alegoria da Caverna, Platão compara pessoas que vivem o dia-a-dia mundano na consciência do ego, ou seja, no Samsara, a pessoas que tenham sido acorrentadas, desde seu nascimento, dentro de uma Caverna. Elas sentam-se fitando a parede de trás da caverna e suas cabeças estão tão condicionadas que elas não podem olhar ao redor. Imediatamente atrás delas há um palco onde figuras se movem como marionetes; e atrás desse palco há uma grande fogueira. O fogo projeta as sombras das marionetes na parede. E essas sombras que se movem são tudo o que as pessoas acorrentadas vêem. Eles as encaram como se fossem reais. Mas isso não é Realidade, é Maya... Ilusão... Samsara. Sombras do mundo das sombras... O mundo do ego.

A Realidade Transcendente, ou Nirvana, é o que é visto sob a brilhante luz do sol, do lado de fora da caverna. Ali a verdade pode ser vista em suas puras formas Ideais. Mas poucas pessoas tentam libertar-se de suas correntes e ir para fora ­ e penetrar na luz. As pessoas sempre ficam em seus sombrios covis e não querem confiar em qualquer coisa do lado de fora de seus próprios pequenos nichos.

Platão finalizou essa alegoria dizendo que, se uma pessoa sair da caverna, e em um louco desejo de ajudar seus companheiros, retornar e contar-lhes sobre o lindo mundo do lado de fora, eles o chamariam de louco e se ele não calasse a boca, eles o matariam.

 
Última modificação: 12/01/2006
Ordem Zen-Buddhista de Hsu Yun
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