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O que é Zen Buddhismo?
Parte III - Meditação
pela Reverenda Ming Zhen Shakya
Vamos supor que um Guru venha à nossa cidade e avise que, por alguma taxa ou alguma outra coisa, ele irá dar algumas aulas sobre meditação para um certo grupo de senhoras que tenham o tempo e dinheiro necessário para assistir a essa aula. Ele diz às suas estudantes para fechar seus olhos, relaxar profundamente, respirar ritmadamente, assumir uma postura passiva e receptiva, e então concentrar-se em uma rosa construir, mentalmente, pétala por pétala, espinho por espinho, folha por folha, esta rosa. Então todas se sentam tentando fazer isso e, depois de algum tempo, uma mulher começa a guinchar como um passarinho: "Ooooooh.. eu fiz isso... eu fiz isso..." E ela imediatamente quebra todas as instruções balbuciando sobre sua rosa perfeita que brilhou com algum tipo de AURA brilhante, e ela tagarela sobre como ela nunca entendeu verdadeiramente as rosas até esse exato momento... e como, depois de meros dez minutos? Ou vinte? Quanto isso durou afinal de contas? O tempo pareceu estar simplesmente parado! Ah, não importa! AGORA ela conhece tudo o que há para se conehcer sobre as rosas... e Gertrude Stein estava tão, tão certa quando ela disse: "Uma rosa é uma rosa é uma rosa! Uau!" Blá, blá, blá. E essa mulher não vai calar a boca ou não pode calar a boca... mas de qualquer maneira as pessoas razoáveis ficaram aborrecidas porque ela está se tornando um estorvo e muito indelicada. Os outros vieram aqui para aprender sobre meditação, e não para ouvir toda essa falação idiota. E todo mundo fica aliviado quando o Guru se aproxima para sentar-se com a mulher e acariciar a sua cabeça. Isso não é incrível? A todo instante, na face da Terra, há dúzias de professores de filosofia que poderiam MATAR para poder dar uma única olhadela em uma das Formas Ideais de Platão... e ali está aquela mulher idiota tagarelando mais e mais sobre a rosa perfeita que ela viu naquele brilhante e atemporal momento. Bem, que isso fique gravado: essa mulher viu uma das Formas Ideais de Platão, e ela pode ser difamada e condenada ao ostracismo, mas ninguém poderá lhe arrancar aquela visão de perfeição. Ela sabe que isso é, como o poeta e místico William Blake disse, "Ver o mundo em um grão de areia e o paraíso em uma flor silvestre, segurar o infinito na palma da sua mão e a eternidade em uma hora." Nós chamamos àquela falação incontida de Doença Zen. Platão chamou isso de Loucura Divina. Isso é a euforia que se segue imediatamente à experiência de uma verdadeira transcendência meditativa. A euforia é definitiva. Como eu digo a meus estudantes: se, quando você se levanta de sua almofada, você não está eufórico, então eu não sei o que você estava fazendo mas uma coisa que você não estava fazendo era meditar. Quietismo não é meditação Transe hipnótico também não é meditação. Incidentalmente, quando o Guru foi na direção daquela mulher para acariciar sua cabeça, ele não estava sendo piedoso para com o infortúnio e nem gentil sobre aquele ato absurdo, como todo mundo pensou. Ele estava simplesmente tentando dividir sua mais incomum alegria. E nem é preciso dizer que, se aquela mulher quisesse se tornar uma discípula daquele Guru, ela não tentaria repetir seu sucesso sentando-se publicamente nesse ashram. Ela teria ido para o seu ashram para sentar-se a seus pés e aprender com ele. Eu vou repetir as instruções que o Guru deu: sentar quietamente, relaxar profundamente, respirar ritmadamente, adotar uma postura passiva e receptiva, como se você estivesse se preparando para ouvir alguma coisa. Então, focalizar mentalmente sua atenção em um objeto comum... uma rosa, um sapato, um guarda-chuva, uma pedra, um lápis... sem, no entanto, ir antes ao objeto para inspecioná-lo; isso não é um exercício sobre treinamento de memória somente construa o objeto e cada uma de suas qualidades, sem pensamentos discursivos. Em outras palavras, se você contemplar um sapato, não comece a refletir sobre sapatos que você tenha conhecido... Seus sapatos favoritos... Sapatos que você odeia, etc. Simplesmente construa um sapato em sua mente qualquer sapato que você queira veja a sola, a fivela, o cadarço, a língua, os nós sem que isso tenha nada de pessoal. Uma outra poderosa técnica meditativa é meramente ouvir sons, sem analizá-los. Adote uma postura gentil e receptiva, feche seus olhos, e guarde os sons que você ouvir, sem pensar sobre eles. Não tenha expectativas. Sem expectativas não há ansiedades. Somente concentre-se e mantenha sua atenção focalizada. Você estará surpreso em quão bem sucedido você pode ser se você trouxer uma postura gentil e humilde com relação à sua tarefa. Baba Ram Dass, que em sua vida secular foi Richard Alpert, um professor de psicologia em Harvard, costumava contar uma história sobre uma palestra sobre transcendência meditativa que ele deu certa vez a uma platéia composta por muitos tipos acadêmicos, homens e mulheres cultos de disciplinas como psicologia, teologia e filosofia. Encorajado por esse leque de tantos intelectuais, Ram Dass, em uma linguagem clara mas sofisticada, começou sua exposição. Sentada distintamente na primeira fila estava uma senhora com aparência de avó, e, a cada vez que Ram Dass fazia um apontamento que poderia ter provocado uma resposta da platéia, essa mulher somente ela , respondia apropriadamente. Quanto ele se referiu à sabedoria interior, essa mulher, e somente essa mulher, riu. Claramente, ela era a única no grupo inteiro que compreendeu sobre o que ele estava falando. Ao fim da palestra, ele desceu do palco e questionou-a.
"Você é uma professora?" ele perguntou. E com esta pérola, eu termino.
Esse foi um seminário dado originalmente na Grace Christian Church,
Boulder City, Nevada, em 27 de Março de 1996.
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Última modificação:
12/01/2006
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