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Master Hsu Yun
Os Ensinamentos do Mestre Hsu Yun
Traduzido por Fa Geng e Rev. Chuan Yuan Shakya

Capítulo 5 - Estágios do Desenvolvimento

Por quais estágios passamos enquanto progredimos em direção à iluminação?

Primeiramente, enquanto meditamos, nós podemos experimentar um momento de pureza total e luminosidade. Nós podemos até sentir que nosso corpo está começando a levitar ou que nossa mente está subindo para fora de nosso corpo e que podemos nos ver sentando abaixo. Estas experiências são muito estranhas para se aprender, e mais ainda para se experimentar. O que é mais estranho é que tantas pessoas as experienciam.

Segundo, podemos sentir um estado de pureza sem ego, no qual nós meramente testemunhamos os objetos de nosso ambiente, sem sermos afetados por eles. Os dados sensoriais não nos alcançam. Nós permanecemos sem sermos afetados pelos eventos ao nosso redor, tal qual uma pedra descansando na água. Quando quer que alcancemos este estado devemos lutar para permanecermos alertas e conscientes da experiência.

Terceiro, poderemos sentir uma grande trovoada que ninguém mais ouve, e ainda assim poderíamos jurar que fez tremer toda a casa. Ou o som que somente nós ouvimos pode ser como o de uma abelha zunindo, ou uma nota de uma corneta distante. Estas experiências auditivas poderiam ser um tanto anormais para uma pessoa comum, mas para a pessoa que pratica o Chan, elas são bem ordinárias.

Quando quer que tenhamos uma experiência estranha, inexplicável -- uma visão, talvez, nós devemos discuti-lo com um mestre e não com outros, que poderão nos desviar com a ignorância ou a malícia. Muito freqüentemente um praticante Chan que não foi capaz de chegar a lugar nenhum denegrirá a experiente de outrem.

O que devemos fazer quando não conseguimos meditar em absoluto, quando sentamos e experienciamos nada além de inquietação? Nós devemos nos aproximar tão gentilmente como se fôssemos crianças. Se uma criança estivesse aprendendo a tocar um instrumento musical, a ela não seriam ensinadas teoria musical e notação, e todas as peculiaridades do instrumento de uma só vez. Não, uma criança seria ensinada passo a passo, com pequenas sessões introdutórias e pequenas sessões de prática. Este é o melhor método. Um músico bem-sucedido pode facilmente treinar 8 horas por dia, mas não um iniciante. Um iniciante precisa conseguir uma série contínua de sucessos. Deste modo ele cultivará paciência, confiança e entusiasmo. Uma longa série de pequenos sucessos é melhor do que uma pequena série de falhas. Nós devemos planejar pequenas metas para nós mesmos, e não devemos nos cobrar metas maiores até que tenhamos ficado bons em todas as menores.

Além da meditação, há a atitude. Um iniciante deve aprender a cultivar a "atitude de um homem morrendo". O que é essa atitude? É a atitude de saber o que é importante e o que não é, de resignação e perdão. Qualquer um que já tenha estado ao lado da cama de um homem morrendo entenderá esta atitude. O que um homem à beira da morte faria se alguém o insultasse? Nada. O que o homem morrendo faria se alguém fosse atacá-lo? Nada. Enquanto ele estivesse deitado ali, ele faria projetos para tornar-se rico ou famoso? Não. Se alguém que uma vez o tivesse ofendido fosse pedir-lhe perdão, ele não o daria? Claro que sim. Um homem à beira da morte sabe como a inimizade é sem sentido. Ódio sempre é um sentimento infeliz. Quem deseja morrer sentindo ódio no coração? Ninguém. Aqueles que estão morrendo buscam o amor e a paz.

Houve um tempo que aquele homem à beira da morte se entregava a sentimentos de orgulho, avareza, luxúria e raiva, mas agora tais sentimentos desapareceram. Houve um tempo que ele alimentava seus maus hábitos, mas agora ele está livre deles. Ele não carrega nada. Ele levou seus fardos ao chão. Ele está em paz.

Caros amigos, quando tivermos suspirado nosso último sopro, esse corpo físico nosso tornar-se-á um cadáver. Se nós nos esforçarmos agora para ver este corpo físico como um cadáver, essa paz virá mais cedo.

Se nós víssemos cada um dos dias de nossa vida como o último, nós não desperdiçaríamos um minuto precioso sequer em buscas frívolas ou avareza, ou raiva. Nós não negligenciaríamos mostrar amor e gratidão para com aqueles que foram gentis conosco. Nós não nos absteríamos de perdão por ofensa alguma, pequena ou grande. E se nós tivéssemos errado, também não imploraríamos por perdão, mesmo com nosso último suspiro?

Pois bem, se esta é a grande dificuldade para o iniciante, que obstáculos um praticante intermediário encontrará? Resultados! Depois que ele cultiva a disciplina do Buddha Dharma, ele deve continuar a cuidar de seu jardim, enquanto espera a colheita da Fruta Sagrada! Entretanto, sua espera deve ser passiva. Ele não pode esperar saber quando virá a estação da colheita. Na agricultura, é possível estimar quanto tempo os feijões demorarão a crescer e as maçãs a madurar. Mas a iluminação virá quando vier.

Quando ela vem, o meditator repentinamente experimentará sua Verdadeira Natureza. Ele também entenderá que seu ego é realmente uma criatura da ficção, uma ilusão nociva. Agora, com a confusão eliminada, ele se tornará imperturbável. Ele desenvolverá uma singularidade da mente, uma unidade que irá brilhar em pureza e estará em absoluta tranqüilidade. Naturalmente, quando ele alcança este estágio, ele deve agir para preservar seu Olho do Diamante da Sabedoria. Ele deve ser vigilante, sem permitir que seu ego retorne, pois fazê-lo seria uma tola tentativa de colocar uma segunda cabeça inútil sobre seu pescoço.

Quando quer que alcancemos o estado sem ego de perfeita consciência, nós a achamos impossível de descrever. A situação é um tanto quanto um observador que vê um companheiro beber um copo de água. A água estava morna ou fria? O observador não pode dizê-lo, mas aquele que bebeu pode. Se o observador descorda, eles podem discutir sobre isso? Não. Podemos debater a iluminação com os não-iluminados? Não. Tais discussões seriam fúteis. O Mestre Chan Lin Ji costumava dizer, "Lute espadas com mestres espadachins. Discuta poesia com poetas". Uma pessoa que chegou a um estado sem ego pode comunicar esta experiência apenas para alguém que também a alcançou.

Mas depois da Iluminação, então o quê?

Depois da Iluminação, nós experimentamos a aventura do Grande Bodhisattva. Em nossas meditações, entramos no reino de Guan Yin. Este é o reino mais maravilhoso de todos.

Mas após isto, o praticante bem-sucedido deve separar-se do Chan, graduar-se, por assim dizer, e ser aquilo que estudou para tornar-se: uma pessoa que parece ser um tanto ordinária, apenas outra face na multidão. Quem adivinharia que esta face é uma Face Original? Quem adivinharia que esta pessoa já foi uma pessoa e duas pessoas e então três pessoas e agora é uma pessoa novamente, uma pessoa que está vivendo a vida do Buddha Self? Ninguém poderia dizer por meramente olhar.

E então o problema final que o praticante encara é realmente adentrar no Vazio sobre o qual os praticantes iniciantes gostam de teorizar. Ele deve possuir a "não-mente". Ao invés de proceder em uma direção, ele deve expandir em todas as direções, ou como Han Shan (Montanha Fria) diria, "adentro do infinito". No Chan também chamamos isto de "soltar-se do poste de cem metros".

Chan é um poste escorregadio de cem metros. É difícil escalar. Mas uma vez que um praticante acha-se sentado em seu topo, o que ele faz, então? Ele se solta. Ele dá um passo para o espaço vazio. Ele não pode voltar ao Chan. Ele descobriu o que significa estar sem ego, mas agora ele deve viver os resultados desta descoberta. Suas ações não podem ser deliberadas ou arranjadas. E então ele adquire espontaneidade e se torna uno com a realidade. Não há mais necessidade de se esforçar adiante.

Portanto, ganhar o Chan é uma tarefa difícil quando começamos; e se soltar do Chan é a tarefa difícil quando terminamos.

A mulher ou homem do chan não se senta no topo do poste de cem metros e admira seu diploma de Iluminação. Ele lê seu diploma, grita "Kwatz!", e joga seu diploma para os quatro cantos. Então ele salta da haste para o infinito.

Caros amigos, apesar de que a Iluminação pode ser alcançada por muitas diferentes portas do Dharma, o Buddha, os Seis Patriarcas, e todos os Ancestrais Chan estão de acordo que o mais maravilhoso de todos os portais é o do Chan.

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Última modificação: January 12, 2006
Ordem Zen-Buddhista de Hsu Yun
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